Conduzir comboios, é um trabalho que exige concentração, dedicação, profissionalismo. Este tenta ser um espaço de prolongamento lúdico das salas de convívio dos maquinistas, com as brincadeiras, as lutas e os problemas dessa classe "elitista", de grevistas (reformados), e que não tem direito a "pontes", nem férias no Verão. Nada do que aqui se passa existe, de facto, embora muitas vezes seja demasiado próximo da realidade.

sábado, março 04, 2006

1- A caminho do Oeste pelo trilho Smoky Hill

Na literatura oficial e nos Westerns correspondentes, as cenas foram sempre iguais. O rapaz matava o bandido e casava com a rapariga. O bandido, claro, era o índio. Rumo ao Oeste, os pacíficos colonos à procura da Terra Prometida. No cimo dos montes, a silhueta dos índios pintados e armados de arcos e flechas. O rapaz a dar ordens para colocarem as carroças em círculo. Berraria e confusão. Cavalos á desfilada pelos montes abaixo. Os colonos, nervosos, entrincheirados, apontam as espingardas. O rapaz, sereno, ordena: “Só disparam quando eu disser. Temos poucas munições”. Começa o tiroteio. Os índios são varridos dos cavalos em vagas sucessivas. A rapariga carrega as espingardas. As setas que são lançadas pelos índios ou acertam nas carroças ou nos ombros ou pernas dos Cara-Pálidas. A mais certeira e mortal acerta sempre no colono mais velho que é, por acaso, o viúvo, pai da rapariga que fica assim, por culpa dos Peles-Vermelhas, sozinha no mundo. O rapaz pega na mão da rapariga e lança-lhe um olhar profundo. As munições que restam, só já chegam para mais uma investida dos índios. Quando tudo parece perdido, ouve-se ao longe o toque de clarim. Eis que surge no horizonte a salvadora 7ª Cavalaria dos “Facas-Longas” que cercam a meia dúzia de índios que ainda restam, eliminando-os rapidamente. Os colonos exultam. O rapaz e a rapariga abraçam-se e beijam-se longamente. É o Happy End.
Tal como estes “Índios-Pintados” que gritavam e lutavam pelo direito de viverem nas suas terras de acordo com a sua tradição e cultura, também os ferroviários sempre souberam, sem arcos e flechas, mas com outras “armas”, defenderem os seus direitos e a sua dignidade. Sempre que o fizeram com determinação, também foram apelidados de “selvagens impiedosos”. Também nesta luta por vezes desigual, sempre houve quem lutasse com a firmeza de quem tem razão da justeza da sua luta e quem infelizmente enveredasse pelo caminho da traição e do compromissivo e que a história se tem encarregado de comprovar, ser o caminho mais rápido do colapso e da auto-destruição.
Não deixa de ser curioso que Pena Escarlate tenha escolhido e comparado a “nossa tribo” (Maquinistas? Todos os ferroviários?) á tribo dos Sioux Oglalas, tribo especialmente conhecida e temida pelos “Casacos-Azuis” pelo seu carácter combativo e determinado na defesa do seu povo e que infligiu ao poderoso exército norte-americano comandado pelo famoso General Custer, uma das mais humilhantes derrotas da sua história, na célebre batalha de Little Big Horn.
Apesar do nosso passado determinado, temos infelizmente vindo a perder este importante predicado. Que o crescente aumento do poder político dos “Cara-Pálidas” só por si não justifica.
O nosso cada vez mais alheamento dos problemas da “Tribo”, a nossa divisão, a escolha dos nossos “Chefes Tribais”, têm constituído, também, factores determinantes na nossa actual situação laboral. Mas comecemos pelo princípio…

1 Comments:

Blogger virilão said...

Vendeu-se a ideia, de que o código do trabalho nos limitava, a ideia de que as requisições civis (ilegais) não têm hipotese de serem combatidas, a ideia de que a Aldeia dos apaches, não é problema nosso, a ideia de que as flechas acabaram...
Vendeu-se tanto, por 2 escalões, (+/-35€ em 3/5 anos) que já poucos acreditam que se pode voltar a montar a tenda na nossa terra...mas esses poucos podem conquistar muitos e os poucos e os muitos, podem ser tantos, os suficientes...ACREDITEMOS!

4/3/06 22:39

 

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